A vitória da Europa com o acordo grego

Não devemos subestimar a desconfiança entre partes radicais tão diferentes quanto os ordoliberais alemães (e os seus satélites onde se inclui o governo português) para as quais não houve erros nos últimos anos, e a esquerda radical que diaboliza a troika e as suas opções que chega a classificar de anti-europeias. O acordo do Eurogrupo de 20 Fevereiro e os posteriores compromissos de reforma por parte de Atenas são, por isso, inevitavelmente vagos. Mas ainda assim positivos. Senão vejamos.

Os gregos ganharam tempo para se preparem (que bem precisam dada a forma errática como se apresentaram nas últimas semanas e o fraco conhecimento que têm da máquina pública grega e da burocracia europeia) e garantiram margem para novas metas orçamentais – uma pretensão mais que razoável. E se tiveram de fazer marcha-atrás em boa parte da sua retórica, conseguiram ainda assim introduzir no debate sobre reformas as opiniões de instituições além da troika, com destaque para a Organização Internacional do Trabalho.

Do lado europeu, também há sinais positivos. A Comissão Europeia esforçou-se por apoiar um entendimento difícil à partida, e reforçou a importância política de respeitar tanto os acordos anteriores, como os eleitores gregos. O BCE fez voz grossa a Varoufakis, mas garantiu o financiamento mínimo à banca grega, condição necessária para que as negociações continuem; e Berlim também cedeu: ainda que só depois da intervenção de Sigmar Gabriel (o líder do SPD, partido que faz coligação com a CDU), Angela Merkel acabou por suavizar o “pegar ou largar” de Wolfgang Schäuble, aprovando a extensão do programa mesmo, com promessas vagas gregas.

Visto por dentro, 01 Março 2015

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