Dois terços dos portugueses diz confiar nas notícias

Uma boa notícia no meio da crise dos jornais em Portugal. Um recente (e muito interessante) relatório do Reuters Institute for the Study of Jornalism estima, com base em inquéritos, que 66% dos portugueses confia na maior parte das vezes nas notícias.

Esta foi uma das boas notícias que contrapus às más notícias sobre a actual situação do jornalismo em Portugal, numa apresentação sobre “a paisagem noticiosa em Portugal” “. A sessão ocorreu na Universidade Lusófona e contou com Walter Dean, que nos falou sobre a situação nos Estados Unidos e ficou surpreendido com a credibilidade das notícias por cá.

Há esperança. A credibilidade do jornalismo está em alta em Portugal. É o valor mais elevado entre nove países europeus.

Desemprego de 25%: não há bom jornalismo assim

Ontem mais de 100 pessoas terão perdido o emprego no “Sol” e no “i”, a maior parte jornalistas. Desde 2009 são já 1200 empregos destruídos nas empresas de comunicação social, conta o Expresso. Despedimentos colectivos, rescisões “amigáveis”, não renovação de contratos, muitos caminhos para um resultado: uma redução abrupta do número de profissionais que fazem as notícias.

Não é fácil calcular a taxa de desemprego para uma profissão. Tentei uma aproximação a partir da melhor amostra que consegui: o número de sindicalizados. Entre eles, cerca de 25% não tem emprego e 12% trabalha por conta própria. Ou seja, entre jornalistas podemos estar perante uma taxa de desemprego de 25%, mais do dobro da média do país. Quase 4 em cada 10 ou não terá emprego ou é freelancer com elevados riscos de precariedade salarial e laboral.

A sociedade pode não estar a dar a devida atenção ao problema. A evolução dos últimos anos constitui uma ameaça concreta à qualidade do jornalismo e à independência dos jornalistas. Não é possível esperar bom jornalismo de um grupo de profissionais que enfrenta periodicamente despedimentos em massa, por vezes repetidos nas mesmas empresas, alimentando uma depressão salarial constante, um receio permanente de perder o emprego, uma alta pressão para produzir mais e mais em menos tempo.

Não quero ser corporativista. Em parte, a crise é também responsabilidade dos jornalistas. Creio que podíamos fazer muito melhor. Muito menos “offs”, um instrumento com elevado e evidente risco de manipulação; mais verificação de informação que é como quem diz menos notícias conspirativas e mais factuais; histórias melhor contadas; mais preocupação com o cidadão (e menos com as fontes e os poderosos); e maior responsabilização dos poderes públicos. Tudo isto poderia melhorar, e muito. Mas que não haja confusão: não há bom jornalismo com taxas de desemprego de 25%. São bons tempos para quem queira tentar vergar as regras de uma profissão que se quer imaginativa, exigente e destemida.

Novas tendências nos jornais em debate na Lusófona

Terça-feira, dia 1, participarei numa conferência/aula aberta na Universidade Lusófona sobre “Novas Práticas para os Media Digitais” ao lado de Walter Dean. Um privilégio permitido pela Sara Pina que quer pôr alunos e profissionais a pensar sobre o futuro desta nossa profissão. Bem precisamos, tal a crise que atravessamos.

O debate surge numa semana triste para o jornalismo português com o anúncio do despedimento de dois terços dos trabalhadores dos jornais “Sol” e “i“. Os profissionais que ficarem, além de cortes salariais, terão de garantir que os dois jornais continuam a ir para as bancas. Nada de animador se poderá esperar deste tipo de estratégia empresarial. Simplesmente não há omeletes sem ovos.

Sem surpresa, a apresentação que levarei começará por dar conta da elevada taxa de desemprego e precariedade entre jornalistas. Uma tendência já bem conhecida dos últimos anos e que, parece-me, não está a ser devidamente valorizada na sociedade. É o resultado da crise mais geral, mas também do que parece ser uma perda do valor económico da informação.

Mas tentarei também olhar para boas notícias. Entre os escombros, a comunidade jornalística está a tentar reagir com pequenos e um grande projecto e ideias que vêm aparecendo. Todos eles, no entanto, parecem ainda enfrentar o grande desafio de encontrar modelos de negócios consistentes com as necessidades da população. Até lá, continuaremos muito provavelmente nesta angústia e muita desorientação que marca o jornalismo dos nossos dias. 

NOVAS-PRÁTICAS-PARA-OS-MEDIA-DIGITAIS

   

 

Salários nunca pesaram tão pouco em Portugal. Maior queda da Zona Euro

Hoje no Negócios João Leão (ISCTE) e Francesco Franco (Nova) ajudam a explicar uma alteração espectacular na economia portuguesa e as suas consequências: Portugal registou a maior queda na Zona Euro do peso dos salários na economia (que assim perdem para juros, lucros e rendas). Está hoje em mínimos históricos e abaixo da média do euro.

Aqui fica um gráfico pedido emprestado ao Negócios:

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A Irlanda é um tigre muito particular

Bom texto do Pedro Romano sobre o milagre económico irlandês (O Tigre Celta, os impostos, as reformas estruturais e alguns exageros). Fica um teaser:

Se leu o post até aqui pode ficar com a impressão de que os impostos baixos e reformas estruturais não interessam. Claro que interessam, e até há quem pense que no caso de Portugal interessam muito. A questão é não há evidência nenhuma de que alguma destas válvulas permita desencadear milagres económicos. A história do Tigre Celta – tal como a história anterior dos Tigres Asiáticos – é muito mais complexa do que parece à primeira vista. Nestas coisas, infelizmente, não conhecemos balas de prata.

O “post” evidencia cuidados importantes em análises económicoas, em particular a relevância de especificidades nacionais – no caso irlandês a importância das filiais estrangeiras, os importantes fluxos de imigração e a envolvente externa, em particular o do Reino Unido.

Ao lê-lo pensei que sublinharia ainda proximidade histórica, cultural e linguística com os EUA, e por momentos regressei a 2013, quando visitei Dublin, onde Tom Flavin, professor de Finanças, e um filho do milagre de crescimento irlandês, me levou numa viagem pelo final dos anos 80, os enibriantes anos 90, e os exageros que se seguiram. O resultado foi publicado numa reportagem no Negócios – “De tigre celta a tigre de papel” (só para assinantes) – de que partilho parte de seguida. É uma boa leitura complementar à do Pedro:

“Quando digo aos meus alunos que quando trabalhei aqui [no centro financeiro de Dublin] existiam apenas quatro empresas ficam atónicos”, diz [Tom Flavin] a sorrir enquanto nos faz uma visita guiada no tempo e no espaço. Foi um salto impressionante. A Irlanda vinha de um período de crescimento moderado e experimentava um dos níveis de vida dos mais baixos da Europa. Nos anos 80, o PIB por habitante ajustado ao poder de compra era substancialmente inferior ao grego e ao espanhol e superior ao português em apenas cerca de 20% – um valor que em 2007 saltou para perto de 90%. Em 1986, aquando da adesão de Portugal à CEE, o desemprego irlandês atingia os 16,8% da população activa, quase o dobro do valor português e o segundo valor mais elevado da União Europeia.

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Economistas e deputados da nova geração debatem “O que fazer com este país”.

Quinta-feira, pelas 18 horas, no auditório  ISCTE estarei a moderar um dos debates a que mais gostaria de assistir.

A Associação de Estudantes do ISCTE junta a nova geração de economistas e deputados para discutirem “O que fazer com este país”, a partir do livro com o mesmo título de Ricardo Paes Mamede, professor na escola. Sobre o livro escreverei mais tarde. Fica o convite para o debate (a entrada é livre) que, além de Ricardo Paes Mamede, conta com Duarte Marques (PSD), Francisco Mendes da Silva (CDS), João Ferreira (PCP), João Galamba (PS) e Mariana Mortágua (Bloco de Esquerda).

Promete. Apareçam!

 

o que fazer

 

 

 

 

 

“Os 10 erros da troika em Portugal” chegam à Alemanha – Apresentação

“Os 10 erros da troika em Portugal” estiveram na semana passada em debate na TFM, a emblemática livraria de língua portuguesa em Frankfurt. Preparei um texto que actualiza alguma informação do livro com os desenvolvimentos do último ano e defendo que a perspectiva de um ajustamento bem sucedido pode ser ilusória. Ideias centrais:

  • A dívida externa nacional ainda não baixou, mantendo-se acima dos 200% do PIB.
  • As perspectivas de crescimento de médio longo prazo apontam para um crescimento anual inferior a 2% ao ano, o que frustra as expectativas criadas com as alegadas reformas estruturais.
  • O colapso do BES em Agosto de 2014, já depois da conclusão do programa de ajustamento, reforça o diagnóstico de que as autoridades europeias, a troika, o Governo e o Banco de Portugal foram demasiado brandos com a reforma do sistema financeiro.
  • Os níveis de crescimento previstos dificilmente garantem a sustentabilidade da dívida quando as taxas de juro começarem a subir.
  • O Estado registará nos próximos anos necessidades de financiamento superiores a 15% do PIB, o limite que faz disparar os alarmes da sustentabilidade da dívida, em particular em Washington;
  • O risco do efeito ABC. A diversificação das exportações é positiva, mas não chegou sem riscos: três dos principais motores dessa diversificação – Angola, Brasil e China – atravessam momentos difíceis. Estes três países são também responsáveis por parte importante do Investimento directo estrangeiro dos últimos anos.
  • A queda da taxa de desemprego para níveis de 2011 é salutar, mas não é verdade que se possa considerar que a situação no mercado de trabalho seja semelhante à de há quatro anos. Agora, mais de metade dos desempregados estão nessa situação há mais de um ano e cerca de metade há mais de dois anos. O número de trabalhadores desencorajados e de “part-times” involuntários é também maior. A taxa de desemprego “real” calculada pelo próprio FMI aproxima-se dos 20% e por aí poderá ficar nos próximos anos.

Se isto é um sucesso…

 

Os 10 erros da troika – Lesung und Gespräch mit Rui Peres Jorge

Rui Peres Jorge: Os 10 erros da TroikaKurz nach der Parlamentswahl in Portugal, die Anfang Oktober stattfindet, freuen wir uns, Sie am Mittwoch, dem 7. Oktober, um 19.00 Uhr zu einer Lesung und Diskussion mit dem portugiesischen Autor und Wirtschaftsjournalisten Rui Peres Jorgeeinzuladen.

Es moderiert Nuno Cassola(Wirtschaftswissenschafter bei der Europäischen Zentralbank). Die zweisprachige Diskussion wird von Sophie Kotanyigedolmetscht.
Rui Peres Jorge stellt sein Buch Os 10 erros da Troika em Portugal (Die 10 Fehler der Troika in Portugal) vor, das im vergangenen Jahr in Portugal veröffentlicht wurde, noch nicht in deutscher Übersetzung vorliegt und die Probleme des Portugal von der Troika auferlegten Sparprogramms kritisch unter die Lupe nimmt.

Wir freuen uns auf Ihren Besuch.

Eintritt 5 Euro

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Pouco depois das eleições em Portugal, temos o prazer de o convidar para a apresentação do livro Os 10 erros da Troika em Portugal do autor, economista e  jornalista português Rui Peres Jorge. A sessão será moderada por Nuno Cassola (economista do Banco Central Europeu). Sophie Kotanyi será a tradutora dessa sessão bilingue que se realizará na nossa livraria (Frankfurt-Bockenheim, Große Seestraße 47), quarta-feira, 7 de outubro, às 19:00 horas.
Rui Peres Jorge, que estará presente, nasceu em 1977,  é autor, economista e jornalista no Jornal de Negócios e acompanhou a passagem da troika por Portugal desde o início.

Entrada: 5 Euros

Somos todos Sepp Blatter?

É por isso urgente encontrar novas formas de regulação assentes num esforço inter-governamental que garanta transparência e responsabilização na FIFA, UEFA e das federações nacionais. Se não fizermos nada, poderemos muito bem acabar todos cúmplices de Sepp Blatter e da perpetuação da corrupção no desporto mais bem sucedido da história. O futebol é demasiado importante para ser deixado a si próprio.

Visto por dentro, 29 de Maio

Aprender jornalismo

Os últimos meses estão a ser feitos a aprender jornalismo. Eu com os meus alunos, eles comigo e com os que vão fazendo esta profissão na qual tenho privilégio de trabalhar na redacção e na sala de aulas.

No Economy Lab, o blogue dos alunos de Jornalismo Económico da Universidade Católica de 2015, vão sendo publicados resultados desta nossa temporada. E há bons trabalhos, com destaque para as notícias sobre a GALP. Para todos estes foi preciosa a ajuda de Pedro Marques Pereira e de Pedro Dias, responsáveis na empresa, que nos ofereceram algum do seu tempo. Um obrigado, claro.

Na pequena turma da Católica entramos agora na recta final. Alguns tentarão a sua sorte no jornalismo, outros nem por isso, mas todos ficarão com uma melhor ideia da importância de explicar e verificar o que se passa à nossa volta, da lealdade ao leitor, e de tornar interessante o que é importante. E com isso aprendemos em conjunto um pouco mais sobre esta bela profissão.

A vitória da Europa com o acordo grego

Não devemos subestimar a desconfiança entre partes radicais tão diferentes quanto os ordoliberais alemães (e os seus satélites onde se inclui o governo português) para as quais não houve erros nos últimos anos, e a esquerda radical que diaboliza a troika e as suas opções que chega a classificar de anti-europeias. O acordo do Eurogrupo de 20 Fevereiro e os posteriores compromissos de reforma por parte de Atenas são, por isso, inevitavelmente vagos. Mas ainda assim positivos. Senão vejamos.

Os gregos ganharam tempo para se preparem (que bem precisam dada a forma errática como se apresentaram nas últimas semanas e o fraco conhecimento que têm da máquina pública grega e da burocracia europeia) e garantiram margem para novas metas orçamentais – uma pretensão mais que razoável. E se tiveram de fazer marcha-atrás em boa parte da sua retórica, conseguiram ainda assim introduzir no debate sobre reformas as opiniões de instituições além da troika, com destaque para a Organização Internacional do Trabalho.

Do lado europeu, também há sinais positivos. A Comissão Europeia esforçou-se por apoiar um entendimento difícil à partida, e reforçou a importância política de respeitar tanto os acordos anteriores, como os eleitores gregos. O BCE fez voz grossa a Varoufakis, mas garantiu o financiamento mínimo à banca grega, condição necessária para que as negociações continuem; e Berlim também cedeu: ainda que só depois da intervenção de Sigmar Gabriel (o líder do SPD, partido que faz coligação com a CDU), Angela Merkel acabou por suavizar o “pegar ou largar” de Wolfgang Schäuble, aprovando a extensão do programa mesmo, com promessas vagas gregas.

Visto por dentro, 01 Março 2015